

Das encostas de La Teixonera, o seu bairro situado no alto de Barcelona, Lia Kali construiu uma das carreiras mais distintas da nova cena de música urbana em Espanha. A sua voz levou-a das versões caseiras aos grandes palcos, consolidando-a como uma das artistas mais autênticas da sua geração.
Agora, enquanto celebra a sua nomeação para os Music Moves Europe Awards, Lia Kali assume um novo papel como embaixadora da JD — a marca britânica que transformou o estilo street numa forma de identidade. É mais um passo em frente numa carreira que continua a crescer sem perder de vista as suas origens.

HIGHXTAR (H) – Vens de uma cena independente. O que é que se ganha e o que é que se perde quando a indústria começa a olhar-te mais de perto?
LIA KALI (L) – Essa é uma pergunta complicada. Por um lado, sinto que ganhei uma certa estabilidade, sobretudo a nível financeiro — agora posso dedicar-me a 100% à minha carreira. Mas, ao mesmo tempo, e embora possa parecer paradoxal, sinto que tenho de me esforçar ainda mais para não me esquecer do motivo pelo qual amo tanto a música.
H – Foste nomeada para os Music Moves Europe Awards. Como é que te sentes ao ver o teu nome ao lado de artistas de toda a Europa?
L – É sempre uma alegria ver reconhecido o amor e o tempo que dedicas a algo, por isso sinto-me grata.
H – O teu novo single, En la cuerda floja (“No Arame”), parece explorar o equilíbrio entre quem és e quem o mundo espera que sejas. Quando foi a última vez que te sentiste no arame?
L – Sou uma pessoa bastante de extremos, por isso caminho nesse arame com alguma frequência — mesmo quando tudo à minha volta está melhor do que nunca.


H – Disseste que En la cuerda floja representa um “regresso às origens”. O que significam essas origens para ti hoje?
L – Para mim, as minhas origens significam tudo. São a força motriz e o motivo pelo qual comecei, e são a única coisa que não posso perder se não quiser que a minha identidade, como artista e como pessoa, se desvaneça.
H – És agora embaixadora da JD, uma marca que também celebra as origens como forma de força. O que te atraiu nesta colaboração e como é que a tornaste tua?
L – Sempre adorei roupa desportiva. Gostei muito que quisessem trabalhar com uma mulher como eu — adoro que estejam a dar visibilidade a mulheres que não se enquadram nas normas convencionais e a ajudar a quebrar o estereótipo dominante. No fundo, acho que a roupa da JD sempre representou não só atletas de elite, mas também muitas pessoas que simplesmente adoram o estilo desportivo.

H – Disseste que a JD faz parte do mundo em que cresceste. O que significa para ti que uma marca global se interesse por essa identidade local? A JD representa energia, autenticidade e movimento — o que te liga a esse espírito para além da colaboração?
L – Basta dar um passeio pelo bairro onde cresci para perceber que a JD faz parte do quotidiano. Quando tinha 18 anos, toda a malta da cena rap juntava-se à noite junto às saídas de ar do Bogatell, e o estilo da JD já estava lá. Por isso, para mim é algo completamente natural — e acho fantástico que a JD, por sua vez, também se orgulhe de pertencer a essa mesma cena.
H – Que papel desempenha a moda na construção de uma artista como a Lia Kali?
L – No lado público das coisas, a roupa funciona como um cartão de visita. À medida que o lado público da minha carreira ganha cada vez mais importância, é algo a que tanto eu como a minha equipa prestamos mais atenção.
H – Uma peça que se possa encontrar na JD e que te represente.
L – As TN e as Shox… essenciais absolutas! Honestamente, não podia gostar mais delas — são incríveis e ficam bem com tudo.

H – A JD vai abrir em Novembro a sua maior loja de Espanha, mesmo em Barcelona. Acreditas que a cidade está a entrar numa nova era criativa?
L – Para ser sincera, mudei-me há algum tempo e já não vivo em Barna. Agora estou quase completamente isolada numa pequena aldeia com cerca de 3.000 habitantes, a uma hora da cidade, por isso estou um bocadinho desligada… do mundo em geral, na verdade! O que acho perceber é que muitos artistas de Barcelona se mudaram para Madrid — suponho que porque grande parte da indústria o fez há anos, e agora parece que tudo acontece lá. Em qualquer caso, Barcelona nunca deixou de ser um centro fervilhante de actividade artística e cultural — tanto na música como no cinema, teatro e muito mais. Embora já não faça parte do seu quotidiano e não conviva tanto com o pessoal de lá — em parte porque já não vivo lá e em parte porque já há uma pequena diferença geracional — continuo com a sensação de que estão sempre a surgir novos projectos entusiasmantes entre os mais jovens.
H – Se pudesses fazer uma visita de compras pela nova loja, quem levarias contigo e porquê?
L – Fácil — levava o meu namorado, porque os dois adoramos ir às compras.
H – Onde te sentes mais tu própria: em palco, no estúdio ou a caminhar sozinha pelo bairro com os auscultadores postos?
L – Ultimamente, sinto-me mais em paz em casa, a ouvir música com os meus.
H – O que pensas da inteligência artificial a compor canções?
L – Sobre esse tema, acho que temos de aceitar que o uso da IA — tanto no dia-a-dia como nos processos artísticos — veio para ficar. Parece-me uma excelente ferramenta em muitos aspectos, mas, ao mesmo tempo, é preciso ter cuidado.


H – Qual foi a última mentira que disseste numa entrevista?
L – Não sei, não me lembro… talvez algo como dizer que estava confortável? Hahahaha! Ainda não te disse que odeio entrevistas?
H – Com quem gostarias de ter uma conversa longa, sem câmaras?
L – Adorava sentar-me com a Rosalía ou a Nathy Peluso… embora encontrar-me com a Omara Portuondo também fosse incrível.
H – Com que frase gostarias que te lembrassem?
L – “Se tenho algo para dizer, não há quem me cale em lado nenhum.”
H – O que nos podes adiantar sobre os teus próximos projectos?
L – Estou a voltar às origens — por agora, fico-me por aí.

“Se tenho algo para dizer, não há quem me cale em lado nenhum“.
Lia Kali
CREDITS
Photography: Kali Elias @kalielias
Photo Assistant: Juankar Gibson @juankargibson
Fashion: Alfredo Santamaría @gothic__sport
Fashion Assistant: Lidia Lara @lidiatl_
MUAH: Ana Paola @anapaolamend
Interview: Mar Piera @marpiera
Production: HIGHXTAR.lab/ Marta Aguado @martaguado13 Mar Piera @marpiera Paloma Molinos @palommc
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