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Olivier Rousteing deixa a Balmain: o fim de uma era 

O designer Olivier Rousteing deixa a Balmain após transformar o luxo numa linguagem de poder, identidade e emoção durante mais de uma década.

Olivier Rousteing deixa a Balmain: o fim de uma era 

A notícia da saída de Olivier Rousteing da Balmain marca mais do que apenas uma mudança na direção criativa: é o fim de um ciclo que definiu a relação entre moda, cultura popular e identidade contemporânea. Após catorze anos à frente da casa de moda parisiense, o designer despede-se de um universo que ele mesmo reinventou, levando o legado de Pierre Balmain para o reino do espetáculo, da emoção e da hipervisibilidade digital.

Rousteing assumiu o comando em 2011, com apenas 25 anos de idade. Numa altura em que a indústria parecia dividida entre a nostalgia e a homogeneização, ele surgiu em cena com uma voz distinta: jovem, diversificada, ousada, profundamente ligada à realidade cultural da sua geração. A sua Balmain não se dirigia apenas à elite: dirigia-se ao público global que consumia imagens, sonhos e referências a partir do ecrã de um smartphone. Ele compreendeu, antes de muitos outros, que a moda do século XXI não poderia existir isolada da conversa social, da representação ou do desejo coletivo.

Sob o seu olhar, Balmain tornou-se sinónimo de empoderamento visual: ombros estruturados, lantejoulas que refletiam luz e poder, corpos que ocupavam orgulhosamente o espaço. As suas coleções não eram meros exercícios estéticos, mas manifestos sobre a força da individualidade. Ele foi um dos primeiros designers a compreender que democratizar o luxo não significava torná-lo mais barato, mas sim abri-lo simbolicamente: fazer com que mais pessoas se sentissem parte da sua narrativa. As camisetas com logotipos, onipresentes durante a década de 2010, eram tanto um gesto comercial quanto uma declaração cultural: a moda de alta costura transformou-se em linguagem cotidiana.

Rousteing também encarnou um novo tipo de diretor criativo: experiente em mídia, transparente, emocional. Sua presença nas redes sociais desmontou o mito do criador distante. Em vez disso, ofereceu vulnerabilidade e autenticidade, partilhando tanto os seus sucessos como as suas lutas internas. A sua história pessoal — marcada pela adoção, identidade e busca por pertencimento — imbuiu o seu trabalho com uma sensibilidade que ressoou para além da passarela. Numa indústria muitas vezes hermética, Rousteing era humano, até mesmo radicalmente humano.

Mas tudo o que brilha também carrega o peso do tempo. Nos últimos anos, o maximalismo que tornou a Balmain um ícone global começou a entrar em conflito com um novo espírito: uma geração que busca silêncio, pausa e profundidade diante do barulho do espetáculo. As últimas coleções de Rousteing, tecnicamente impressionantes, mas carregadas de excessos visuais, pareciam lutar entre a fidelidade ao seu próprio universo e a necessidade de mudança. Nesse interstício — entre grandeza e cansaço — a sua saída pode ser entendida: não como um fracasso, mas como um ato de maturidade criativa.

«Estou imensamente orgulhoso do que construímos», escreveu ele na sua declaração de despedida. «A Balmain foi a minha casa e a minha família durante 14 anos.» Há uma emoção nessas palavras que transcende a retórica corporativa: a de alguém que sabe que moldou uma era e que, ao mesmo tempo, sente que a sua visão precisa de respirar ar novo.

A Balmain, por sua vez, enfrenta agora uma questão que vai além de nomes ou sucessões: o que significa ser Balmain em 2025? Como pode conciliar o seu legado de opulência com a nova sensibilidade do luxo discreto, do corpo real e da emoção contida? O que Rousteing deixa para trás não é apenas uma estética, mas uma atitude: a certeza de que a moda pode ser inclusiva, poderosa e profundamente emocional ao mesmo tempo.

Numa época de transições — da Gucci para a Saint Laurent, da McQueen para a Givenchy —, a saída de Rousteing simboliza uma mudança de era. A moda, sempre em constante renascimento, parece estar novamente em busca da autenticidade num mundo saturado de imagens. Mas se Olivier Rousteing nos ensinou alguma coisa, é que mesmo na saturação pode haver beleza e que a luz, quando é genuína, nunca se apaga completamente.

Olivier Rousteing recorre ao arquivo de Pierre Balmain para o 80.º aniversário da casa de moda.

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